Estamos nos aproximando do período de férias escolares e das tradicionais festas de fim de ano. Para nós, servidores públicos, é tempo de receber o 13º salário e, para muitos, também o adicional de férias. É o período em que mais se intensificam campanhas comerciais para nos fazer cobiçar viagens ou comprar presentes. Aproveitamos esse contexto para lhe perguntar: como andam suas finanças? Você consegue planejar o uso do dinheiro ou ele já “pinga e evapora” logo que você o recebe?
Nas duas últimas décadas, o brasileiro experimentou uma melhora nas condições socioeconômicas. Com isso, muitos indivíduos e famílias puderam ter acesso a uma série de bens e serviços antes supérfluos, que se inserem no conceito de poder, status e reconhecimento social. A escolha por um consumo de produtos ou serviços mais sofisticados ou luxuosos passou a ser percebido como valores intrínsecos ao sujeito, como se o “preço” do homem estivesse relacionados aos bens consumidos.
Nesse contexto, são veiculadas campanhas midiáticas sedutoras, que oferecem o velho com roupagem nova. Produtos e serviços com funções semelhantes são vendidos como mais modernos, bonitos e sofisticados, e aqueles que não se rendem à novidade podem se sentir excluídos ou fracassados, fomentando ainda mais o ciclo “vicioso” do consumo.
Esse fenômeno é característico da cultura pós-moderna, em que valores tradicionais ligados a instituições religiosas, sociais e familiares foram enfraquecidos, promovendo novos estilos de vida. Referências antes seguras foram objetos de questionamento e desconstrução, e o sujeito, “livre” dos ditames que o prendiam, pode adotar uma postura mais individualista, na construção de sua própria identidade.
O que ocorre, entretanto, é que o homem pós-moderno passou a enfrentar uma crise de sentido decorrente dessas quebras de paradigma, o que aumentou sua vulnerabilidade à cultura de consumo. Essa pode ser entendida como uma necessidade superficial de atender a um imperativo de identificação e pertencimento.
Desse fenômeno, surge o consumismo, uma relação desequilibrada com o comportamento de consumo. Enquanto esse é necessário, prazeroso e limitado; aquele é prejudicial, desregrado, traz sofrimento, arrependimento e angústias. Está relacionado a uma espécie de “endividamento afetivo”; ou seja, o indivíduo usa a aquisição de objetos materiais ou serviços como estratégia para aliviar a solidão, frustrações ou carências.
A vulnerabilidade é tamanha que muitas pessoas contraem dívidas de forma crescente e desgovernada. Além de terem o orçamento pessoal e familiar comprometido, sofrem com a desordem psicológica e social resultante do endividamento, fator determinante para separações conjugais, problemas de saúde, entre outros. O ponto culminante é a inadimplência.
O descontrole na gestão financeira é assimilado como sinal de incompetência e interfere em como o sujeito se percebe na vida pessoal e profissional. Aquela dívida afetiva que o sujeito procurava “pagar” não diminuiu, mas, ao contrário, causou mais preocupações, angústias e sensação de descontrole, podendo levá-lo ao recomeço do ciclo.
A recente piora da conjuntura econômica brasileira nos obriga a exercitar a crítica a respeito de nossos hábitos de consumo, da nossa relação com o dinheiro e com o crédito. Devemos mudar a rota do endividamento ao mínimo sinal de que estamos procurando compensar crises nos relacionamentos ou em nossos valores ou objetivos com compras desnecessárias ou supérfluas.
Você pode obter orientações práticas sobre como reorganizar suas finanças com o “Guia de Saúde Financeira”, disponibilizado pelo Programa de Qualidade de Vida do STJ neste link. Também na seção “EaDicas de Saúde Financeira”, do nosso Portal EaD. Se sentir a necessidade de orientações mais específicas, procure o Centro de Estudos da Saúde da SIS.
Se, por outro lado, quiser conversar a respeito desses aspectos psicológicos das finanças e do endividamento, entre em contato com a Seção de Assistência Psicossocial (SEAPS), escrevendo para saude.mental@stj.jus.br.
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Assista no Youtube esta reportagem sobre o 13º salário
Fontes
Artifon, S. & Piva, M. (2013). Endividamento nos dias atuais: Fatores psicológicos implicados neste processo. Disponível em: http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0771.pdf
Texto: Seção de Assistência Psicossocial (SEAPS/SIS/STJ)
Colaboradores: Juliana Bernardes de Faria (SEADI/STJ) e Catarina Nogueira França Rêgo (Revisão)
Responsável pelo projeto: Camilla Ferreira de Lima (SEADI STJ)
Arte: Gabryel Antônio de Oliveira/SEADI STJ (design gráfico) e Camilla Ferreira de Lima/SEADI STJ (web)
Ícones: FreePik/Vecteezy
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