Se você parou para refletir sobre o título, é um ótimo sinal, pois a maior parte das pessoas nem pensa a respeito disso. Muitos percebem o alcoolismo quando esse transtorno gera problemas mais graves, como baixo desempenho no trabalho, falta a compromissos, dificuldades no relacionamento interpessoal e tremor matutino. Mas a partir daí, não será um pouco tarde para tomar uma atitude?
Muito antes de o abuso ser crônico, é possível perceber alguns dos sinais da doença. O indivíduo alega ter bebido demais no dia anterior, dirige após a ingestão do álcool, mete-se em discussões desnecessárias e toma algumas doses para dormir melhor. Progressivamente, é como se o corpo se movesse cada vez mais em direção à bebida, num indicativo de que os “limites” para o próprio corpo já foram ultrapassados.
Situações embaraçosas para o indivíduo, familiares e amigos seriam suficientes para os envolvidos repensarem o controle sobre o álcool. No entanto, o usuário nem sempre tem dimensão do problema que está inserido, e muitos entes só buscam socorro quando a dependência já se instalou; ou seja, quando o estereótipo do “alcoólatra” está bem caracterizado.
O estereótipo está ligado a alguém que fala sempre em tropeços, cambaleante ou maltrapilho, que às vezes se perde em tristeza ou agressividade, ou no qual a própria graça se converte em dor. Especialistas advertem que considerar a fase final do alcoolismo como sendo a do estereótipo dificulta a reflexão sobre aspectos problemáticos da doença.
Em um estudo publicado pelo especialista em saúde mental Luís Manuel Loureiro, denominado Estigma Pessoal e Percebido acerca do Abuso do Álcool e Intenção de Procura de Ajuda, afirma que aqueles que têm uma percepção menos estereotipada do alcoolismo são os que mais procuram ajuda. Também aqueles que já lidaram com o alcoolismo em pessoas próximas tendem a reconhecer a doença mais facilmente e buscar apoio.
Do ponto de vista das ações de prevenção e tratamento do alcoolismo, um desafio é fazer com que pessoas que não se percebem abusando da substância reavaliem seus hábitos de consumo. Geralmente, pessoas que tem uma percepção estereotipada do alcoolismo, assumem para si o limite do que seria o abuso do álcool, desconsiderando balizas que, familiares, amigos, profissionais de saúde ou mesmo a legislação estabelecem para reconhecer atitudes abusivas.
Um dos exemplos mais comuns é dirigir sob efeito do álcool. Como a maior parte das pessoas associa o abuso do álcool a estados de embriaguez com perda de habilidades cognitivas e motoras, elas não consideram as graves implicações sociais desta conduta. Apesar de algumas pessoas poderem argumentar que não estão embriagadas e que poderiam dirigir, se elas forem abordadas por agentes de segurança no trânsito elas serão multadas e terão a habilitação suspensa. Essas consequências já são suficientes para confirmar um dos critérios diagnósticos para abuso de substâncias: problemas no convívio social resultantes do seu abuso. A associação entre bebida e direção é um exemplo de que a bebida pode trazer problemas mesmo que a pessoa não atropele alguém, bata o carro ou se machuque.
Assim, a disposição para realizar uma autocrítica é fator essencial para reconhecimento do problema e para aderir ao tratamento. Também é importante ouvir a opinião de pessoas próximas de maneira sensível para rever os limites do que seria o abuso em outras circunstâncias sociais. Indo além, pensar sobre qual o impacto das nossas ações sobre aqueles que nos valorizam.
Com vistas a provocar uma reflexão sobre o uso do álcool, disponibilizamos, abaixo, o teste AUDIT e o site Beber Menos Brasil. Você pode recomendá-los a algum familiar ou amigo caso queira advertir sobre o uso abusivo da substância.
http://vivamais.cecom.unicamp.br/?p=161
https://www.informalcool.org.br/bebermenos
Entre em contato
O servidor do STJ que queira conversar sobre o assunto, é possível encaminhar um e-mail para a Seção de Assistência Psicossocial (SEAPS) no endereço saude.mental@stj.jus.br, que logo entraremos em contato.
Vídeo sobre pais alcoolistas lidando com crianças
O vídeo abaixo é uma provocação chocante de como os filhos percebem e reagem aos sintomas de embriaguez dos pais. E indo além, será que nós, pais, podemos rever nossos hábitos de consumo diante dessas reações? Clique aqui se precisar de link para o vídeo.
Acesse ainda
Cartilha do Programa Alvorecer STJ para os gestores
Fontes
LOUREIRO, L. M. de J. Estigma Pessoal e Percebido acerca do Abuso de Álcool e Intenção de Procura de Ajuda. Rev. Enf. Ref. [online]. 2013, vol. III, n.11, pp.59-66. ISSN 0874-0283. http://dx.doi.org/10.12707/RIII1360
LARANJEIRA, R. O Tratamento de Dependência Química e as Terapias. Porto Alegre: Artmed, 2012.
Texto: Seção de Assistência Psicossocial (SEAPS/SIS/STJ)
Colaboradores: Juliana Bernardes de Faria (SEADI/STJ) e Catarina Nogueira França Rêgo (Revisão)
Responsável pelo projeto: Camilla Ferreira de Lima (SEADI STJ)
Arte: Gabryel Antônio de Oliveira/SEADI STJ (design gráfico) e Camilla Ferreira de Lima/SEADI STJ (web)
Ícones: FreePik/Vecteezy
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