O que é normal quando sentimos medo de algo? O medo é um sentimento de proteção, nos deixa preparados para evitarmos uma situação perigosa. A resposta fisiológica de medo é importante para nos tornar reativos a uma situação de risco para fugirmos ou lutarmos pela nossa sobrevivência. Numa situação de susto, por exemplo, é comum que a pessoa se afaste do contexto do susto e, na sequência, avalie qual é o perigo que ela está correndo. Quando a pessoa entende que não há perigo, ela não se sente mais com medo e pode até rir da situação. Entretanto, se a pessoa não consegue racionalizar o motivo do seu medo e avaliar qual deveria ser a proporção do mesmo, isso pode ser um bom indício de que a pessoa esteja fóbica.
As fobias são condições persistentes de medo a determinados objetos ou situações específicas cujos sintomas podem ocorrer até pela antecipação dos mesmos. A pessoa pode reconhecer que o medo é excessivo, desproporcional e irracional, mas não consegue deixar de senti-lo. A exposição ao estímulo fóbico, invariavelmente, provoca uma resposta imediata de ansiedade que pode assumir a forma de uma crise de pânico em casos mais graves. Alguns dos sintomas físicos mais comuns são: sudorese, palpitação, tremores, náusea, dilatação das pupilas, problemas intestinais, choro, taquicardia, ruborização e pressão baixa. As tentativas de evitar a situação fóbica interferem de maneira significativa na vida da pessoa. Isso pode acarretar em prejuízos na vida social, no trabalho e mesmo em atividades cotidianas.
Há determinados tipos de fobias que são mais simples de serem evitados por serem situações pouco usuais, essas passam despercebidas mais facilmente. Fobias específicas comuns que têm um impacto razoável na qualidade de vida das pessoas são relacionadas a voo de avião, elevadores e direção de carros. O comprometimento tende a ser a demanda de mais tempo para viajar, subir escadas e se deslocar por uma cidade, esse tipo de fobia tende a piorar quando ocorrem desastres relacionados a esses contextos.
Dentre as fobias mais comuns, a mais incapacitante é, sem dúvida, a fobia social. Esse quadro ocorre em situações de interação social e as pessoas apresentam intensa ansiedade, comprometendo de maneira clara sua capacidade de se relacionar com as pessoas e de desempenhar tarefas num ambiente social. É comum o relato de medo de ser constrangido e de uma avaliação negativa por outras pessoas, mesmo pessoas que sejam conhecidas. É importante ressaltar que situações de interação entre duas pessoas tendem a ser menos desgastantes e a pessoa não tem tanta dificuldade.
O comportamento de esquiva e evitação de situações fóbicas, neste caso, tende a empobrecer a rede social da pessoa. Isso limita as oportunidades de desenvolver habilidades variadas como assistir aulas, comparecer a lugares públicos, fazer amigos, lidar com colegas de trabalho, participar de confraternizações em família e sentir-se minimamente tranquilo em contextos de interação social. No contexto de trabalho a fobia social pode ser responsável pela perda de oportunidades de promoção para cargos de gestão, dificuldade de participar de reuniões, desgaste intenso para lidar com situações de interação em grupos. O isolamento social gerado pela fobia pode inclusive levar a quadros de depressão grave.
A relação entre uso da internet e esquiva de situações de ansiedade tem sido mais estudada nos últimos anos. Embora seja considerada uma atividade social, a participação em grupos online para socializar, jogar e aprender habilidades variadas pode ser uma forma de esquiva a contextos sociais reais. Isso é particularmente preocupante quando a pessoa não tem outras atividades sociais que não sejam mediadas por plataformas online. Já existem estudos apontando para o fato que crianças com pouca interação social real podem ser mais predispostas a quadros de fobia social na vida adulta.
As fobias podem surgir com base em experiências desagradáveis, reais ou imaginadas, e tendem a ser recorrentes entre gerações de familiares. Como, de maneira geral, as pessoas estão atentas apenas aos sintomas de ansiedade vivenciados durante a situação fóbica elas dificilmente reconhecem quais sensações, pensamentos e sentimentos antecipam a crise fóbica e não percebem as perdas relacionadas ao comportamento de esquiva a contextos e objetos fóbicos. As intervenções psicoterapêuticas propõem formas para lidar com os pensamentos, sentimentos e sensações relacionados às fobias específicas buscando a exposição controlada ao estímulo ou contexto fóbico. Isso permite um reconhecimento dos condicionantes vividos e imaginários da fobia e um avanço gradual e progressivo no controle da ansiedade.
Se você, servidor, suspeita estar fóbico ou mesmo convive com alguém assim e deseja orientação, nós disponibilizamos o seguinte e-mail para que possa pedir ajuda: saude.mental@stj.jus.br. Um membro da equipe de saúde entrará em contato.
Fontes:
American Psychiatric Association. (2014). DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora.
Sioni. S. R. Burleson, M. H. Bekerin, D. A (2017) Internet gaming disorder: social phobia and identifying with your virtual self. Computers in Human Behavior. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Sasha_Sioni/publication/312460758_Internet_gaming_disorder_Social_phobia_and_identifying
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D’El Rey, G. J. F., & Freedner, J. J. (2006). Depressão em pacientes com fobia social. Psicologia Argumento, 24(46), 71-76. Disponível em: https://periodicos.pucpr.br/index.php/psicologiaargumento/article/view/20197/19487 Acesso em: 03 de abril de 2017.
Texto: Seção de Assistência Psicossocial (SEAPS/SIS/STJ)
Colaboradores: Catarina Nogueira França Rêgo (Revisão)
Responsável pelo projeto: Camilla Ferreira de Lima (SEADI STJ)
Arte: Camilla Ferreira de Lima (SEADI STJ) (design gráfico/web)
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