O suicídio, nos últimos anos, foi reconhecido mundialmente como um problema de saúde pública. Dados demonstram que ele está entre as principais causas de mortes de adolescentes, com aumento de casos, também, em outras faixas etárias. Com base nesse reconhecimento, passamos a conhecer melhor os impactos das tentativas e dos casos de suicídio na vida dos familiares e grupos de pessoas que lidam com a situação.

De acordo com o psicólogo Marcelo Tavares, “O impacto de um suicídio ou, ainda, de sua tentativa não se limita à pessoa em processo de sofrimento. Uma percepção desse impacto, na sociedade e na cultura, está associada à experiência de conviver com o risco de perder alguém por meio de um suicídio. Conviver com o risco significa saber ou intuir que alguém que amamos ou com quem convivemos pode se matar. Perder alguém para o suicídio significa saber que a pessoa tirou a própria vida e, em decorrência disso, sentir-se submetido à necessidade de dar sentido a esse ato, de ter de justificar e sustentar o valor de nossas próprias vidas, especialmente em momentos mais difíceis. Chamamos quem vive esse processo de “sobrevivente”.

O suicídio é um tipo de morte muito impactante, podendo ser devastador para esses sobreviventes. Pesquisas apontam para aspectos diferenciados do luto de pessoas que superam o suicídio de parentes. Muitos familiares revelam altos níveis de culpa pela morte de um familiar, quando comparado ao luto de pessoas que perderam parentes para outras causas violentas. Além de sentirem saudade, também se sentem rejeitadas, abandonadas e, muitas vezes, sentem raiva do suicida.

O luto é uma reação natural para lidar com a morte. Entretanto, nos casos de suicídio, é comum evoluir de maneira desfavorável, afetando a saúde mental dos enlutados, culminando para quadros depressivos, de ansiedade, com abuso de substâncias e aumento do risco de suicídio dos mesmos. A dificuldade de estabelecer um sentido para o ato suicida é uma das dimensões mais difíceis de serem superadas, pois geram uma série de questionamentos a respeito do que poderia ter sido feito para evitá-lo e o vazio criado pela tragédia.

É comum ocorrer, ainda, o sentimento de vergonha que os familiares sentem por conta do suicídio do ente querido. Esse constrangimento faz com que se afastem de parentes e amigos, dificultando um suporte emocional adequado, além de ensejar a estigmatização de uma família ou de pessoas vinculadas àquela que morreu. Essa relação do luto com o estigma nas relações interpessoais deve ser observada, pois o cuidado com os relacionamentos com outras pessoas tem impacto direto na superação do trauma do suicídio.

Diante desse cenário difícil e comprometedor da saúde mental dos sobreviventes é que se desenvolveu a posvenção em suicídio, que ocorre por meio do monitoramento proativo do sofrimento, do luto, dos riscos de transtornos mentais e pensamentos suicidas dos familiares sobreviventes. Além disso, são propostas estratégias que criem condições para elaborar os sentimentos implicados na situação de suicídio. Ao mesmo tempo que é uma intervenção junto às pessoas próximas daquele que se matou, é também uma ação de prevenção que busca diminuir os fatores de risco para esses sobreviventes. As estratégias de posvenção vão desde a assistência prestada por profissionais e a participação em grupos de apoio, até a mobilização dos familiares, amigos e colegas de trabalho para oferecerem um apoio efetivo a quem vivenciou a perda de alguém por suicídio.

Considerando a campanha mundial de prevenção contra o suicídio, convidamos todos os servidores do STJ a dar maior atenção maior às pessoas que manifestem ideação suicida (texto do ano passado), assim como aos familiares e pessoas próximas daqueles que cometeram suicídio.

Você, servidor(a), que se identificou com os temas abordados e deseja conversar a respeito, envie uma mensagem para saude.mental@stj.jus.br. Um membro da nossa equipe entrará em contato o mais rápido possível.

Sugestão de leitura:

Suicídio e luto, uma tarefa da posvenção para “amar depois da dor”

Texto: Seção de Assistência Psicossocial (SEAPS/SIS/STJ)
Responsável pelo projeto: Camilla Ferreira de Lima (SEADI STJ)
Arte: Camilla Ferreira de Lima (arte), Murilo Maia de Carvalho (web)
Revisão: Luciana de Assunção, Márcia Romão

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