Chico Anysio, um dos maiores humoristas brasileiros, cunhou o termo psicofobia para expressar a forma como ele entendeu os preconceitos contra as pessoas com transtornos mentais. Ele relatou em vídeo que tinha transtorno depressivo e que lutou por 24 anos, com tratamento adequado, para superá-lo. Se ele, um mestre do humor, vivenciou a depressão, quem não poderia? Foi com base nessa provocação que teve início uma campanha nacional de informação e reflexão sobre o preconceito, a discriminação e a estigmatização das pessoas com transtornos mentais (https://www.psicofobia.com.br/).
O desconhecimento acerca dos transtornos mentais e das opções de tratamento possibilitam um discurso pejorativo e preconceituoso em relação a esse tema. A discriminação, explicitada em comportamentos de rejeição e evitação, dificultam o acesso ao tratamento adequado, geram perdas nos relacionamentos sociais, no trabalho, na autoestima e dificultam o reconhecimento de um problema que não pode ser resolvido sozinho.
A estigmatização dos transtornos mentais ocorre por meio de uma série de rótulos. Os mais comuns são: pessoa problemática, difícil de lidar, fraca, não-confiável, violenta, impulsiva, entre outros termos pejorativos. Esses rótulos tendem a limitar o reconhecimento de uma condição de sofrimento, de uma história saudável anterior ao adoecimento e simplificar o problema enfatizando as dificuldades que a pessoa vivenciou enquanto estava doente.
Existe farta literatura demonstrando que as atitudes discriminatórias podem acarretar prejuízos maiores que a própria condição do transtorno mental (Thornicroft e cols, 2007). Estudiosos do tema apontam para uma dinâmica de exclusão que enseja um empobrecimento dos vínculos sociais, uma diminuição das oportunidades de emprego e endividamento. Por sua vez, essa situação acarreta piora do quadro de saúde mental, perpetuando um ciclo vicioso de sofrimento e perdas.
A superação da psicofobia passa por um reconhecimento da complexidade dos transtornos mentais e por mudanças de atitudes visando uma convivência sem julgamentos. Estudos recentes confirmam que a melhor forma de superar a estigmatização é pelo contato direto com pessoas com transtornos mentais, em nível individual. Daí que uma pessoa como Chico Anysio, conhecido por tantos brasileiros, possa mobilizar as pessoas para naturalizarem a depressão, por exemplo. O saudoso jornalista Ricardo Boechat também ajudou muito ao falar publicamente sobre a sua depressão, em 2015. Mais recentemente, o humorista Whinderson Nunes e o padre Fábio de Melo também publicaram suas vivências de depressão.
Em nossos círculos íntimos e de trabalho, é provável que conheçamos pessoas que sofrem e/ou sofrerão com algum transtorno mental ao longo da vida e ajudaremos muito demonstrando tolerância e não nos apegando ao momento difícil pelo qual estão passando. No contexto de trabalho, é especialmente importante lidar com os colegas de maneira natural quando do retorno de uma licença médica ou em razão de restrições laborais que elas estejam necessitando. Um ambiente de trabalho acolhedor pode ajudar muito na superação de um sofrimento mental.
A natureza humana é dinâmica. Nós mudamos, nos adaptamos e, muitas vezes, o custo da adaptação a novos cenários e perspectivas de vida é muito sofrido. Podemos sucumbir ao sofrimento, entristecemos, choramos, nos exasperamos, ficamos ansiosos, ficamos sem perspectivas, às vezes, podemos até ficar alheios à realidade. Felizmente, nós mudamos e a mesma flexibilidade que nos impõe o sofrimento também permite que o superemos, mas precisamos de tempo e cuidado.
Nos contatos sociais mais comuns, não temos tempo para conhecer toda a complexidade que permeia os quadros de transtornos mentais. Mas não é difícil, sabendo que alguém está passando ou passou por um transtorno mental, agirmos de maneira mais compassiva e menos apegada a rótulos simplificadores. O STJ dispõe de muitas equipes de trabalho solidárias e cuidadosas com seus membros e isso se reverte em melhores condições para a superação da psicofobia. Esperamos que essa reflexão possa mobilizar muitos colegas, amigos e familiares para conversas francas sobre a importância da superação da discriminação e de uma perspectiva mais inclusiva em nossa humanidade.
Você, servidor (a), que se identificou com as informações apresentadas e quer obter mais informações ou procurar ajuda, pode escrever para saude.mental@stj.jus.br. Um membro da equipe de saúde entrará em contato.
Texto: Seção de Assistência Psicossocial (SEAPS/SIS/STJ)
Responsável pelo projeto: Seção de Soluções em EaD e Desenho Instrucional (SEADI/ECORP/STJ)
Arte:Pedro Paulo Silva Sihuay (SEADI/ECORP/STJ)
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